Cantar a melodia ou
improvisar sobre ela?
Muitos cantores e cantoras gostam de improvisar constantemente
sobre melodias quando interpretam uma música popular tornando-as em alguns
momentos “outras” melodias, alterando toda a concepção das mesmas quando foram
criadas pelos seus compositores.
No jazz é comum que o intérprete, não somente o cantor, mas
também o músico solista, tenha a liberdade de improvisar sobre a melodia quando
executa a música pela segunda vez, mantendo a primeira execução praticamente na
melodia original.
Porém, hoje em dia, quando assistimos programas onde novos
talentos buscam seus espaços em concursos na televisão, a técnica da
improvisação sobre a melodia tem passado a dominar toda a interpretação.
A melodia original é quase que completamente alterada,
tornando-se “algo” estranho e nem sempre de bom gosto.
Parece que hoje muitos consideram que “improvisar” sobre uma
melodia é uma qualidade fundamental para um intérprete ser considerado um bom
cantor ou uma boa cantora.
Esta é uma grande cilada onde você que quer se tornar um (a)
grande cantor (a) não pode cair. Achar que improvisar sem nenhum cuidado dará a
você a avaliação de ser um bom intérprete.
Há algum mal em improvisar? Acredito que, com os devidos
cuidados, pode ser algo a ser agregado positivamente à performance, porém se a
improvisação for mais presente do que a própria melodia referência, algo está
por se tornar ilógico.
Vejamos o porquê. Se o cantor ou cantora optou por
interpretar aquela música, criada por aquele compositor, nada mais justo do que
entender que a sua opção foi por achar de boa qualidade a melodia. Se não fosse
assim, teria escolhido uma outra melodia, certo?
Imagine se fôssemos ler um livro e resolvêssemos alterar os
textos do autor, substituindo-os por outros? Como seria a leitura desse livro?
E no caso de um filme? Começamos a assistir o filme e em
nossa mente alteramos em vários pontos os diálogos do filme. Parece absurdo? E
é.
Você pode dizer que a música permite esta improvisação e eu
vou concordar, é claro, mas eu diria que não se deve exagerar nestas
improvisações.
Percebo que os cantores e cantores, durante a interpretação
de uma música, são “seduzidos” com a ideia de alterar uma nota musical aqui,
outra lá, quase que pretendendo dar o seu “toque” pessoal na melodia.
Sedução é assim mesmo, se nos distrairmos, ela toma conta de
nós, porém é preciso bom senso para não mergulhar numa sequência infinita de improvisações
que podem ir desde a multiplicação de notas em um final de uma palavra ou mesmo
em “vôos” ousados que fazem a melodia original ficar “escondida” dentro dos
acordes do violão, do piano ou do arranjo musical de uma banda.
E então? O que achou desta questão de cantar a melodia ou
improvisar sobre ela?
A ideia foi despertar a sua atenção para que a reflexão esteja
sempre presente quando você for interpretar uma música.
Maestro Sergio
Valério