Música - Daniele Garcia Migrassom - www.falamaestro.com.br

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Dicas & Toques
A Profa. Daniele Garcia Migrassom, Mestre em Música, nos diz:
“Que ninguém deve impor limites a si mesmo quando o assunto é música. Ouça, faça, participe! A música pertence a todos!”

Nesta entrevista para a web revista musical ela nos traz conceitos muito importantes sobre a Música. Queremos convidá-lo (a) a mergulhar em todos os temas que Daniele Garcia Migrassom aborda e também refletir sobre esta Arte tão especial.

01. O que a levou a estudar Música?
R. Uma grande vontade de tocar e cantar, o encantamento que o poder da música me trazia e, acredito eu, uma vontade inata de me expressar por essa arte. Lembro-me de visitar a casa de uma amiga, anos depois, e a sua velha e querida mãe me dizer: - puxa, que saudades... Lembro-me de você aqui pegando nossos copos para colocar água em quantidades diferentes e brincar de tocar com nossos talheres! Rs...
 
02. Você se dedica a um instrumento musical em especial? Se sim, qual é? Qual é o tempo diário que dedica a este instrumento?
R. Bem, o violão é meu principal instrumento por formação (fiz conservatório - que chamavam de violão clássico e popular), mas depois o canto e muitos outros instrumentos se revelaram no meu mundo musical, além do coral de crianças e adolescentes que mantenho há 15 anos, compondo arranjos e regendo. Quando adolescente, dedicava pelo menos duas horas por dia ao estudo. Atualmente, incluo o estudo semanal nas janelas que a maternidade me permite, dentro das 40 horas de trabalho com aulas curriculares e extracurriculares, da coordenação do Espaço Musical Sintonia e da gestão/composição/shows do Migrassom na Migrassom Produções, mas na minha gama de instrumentos estão a flauta doce, as técnicas de percussão, o derbake, a viola caipira, baixo, escaleta, etc. Mas (não nego), continuo estudando e compondo com o violão. O Migrassom (duo que criei com Glauber Lyra) evidencia a ponte entre a cultura dos povos, então, musicalmente, a base do Migrassom tem a cara do violão brasileiro temperado com todos os instrumentos possíveis.

03. Como está a Música dentro da Educação no Brasil?
R. Olha, depende muito do olhar. Se falarmos da educação básica, a ausência de um currículo fixo, diferente de outras disciplinas, auxilia muito ao professor na elaboração de seu projeto educacional, pois dá margem a trabalhar mais a regionalidade, a música e autores locais, a diversidade, as habilidades específicas dos alunos, e, sobretudo fazer uma análise do local, da circunstância e dos alunos, para trabalhar de acordo com suas necessidades e potencialidades. Se falarmos da educação infantil, temos excelentes referências, como os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais). No Brasil temos grandes referências em educação musical, pessoas que tive o prazer de conhecer, aprender e conviver, como Marisa Fonterrada (UNESP), Teca Alencar de Brito (USP) e muitas outras pessoas formidáveis, trabalhando nas Universidades e contribuindo para a formação de novos educadores; o maestro Galindo, regendo e escrevendo livros para gente jovem; temos acesso a diversos artigos e trabalhos acadêmicos sobre educação musical e sua contribuição para áreas correlatas (música e física, música e filosofia, música e neurociência), pesquisas inter e transdisciplinares... que ajudam a completar esse grande mosaico que é a educação musical no Brasil. Agora, se falarmos de investimento... Creio que, principalmente com a nova grade curricular do Ensino Médio, muitos perderão a oportunidade de visitar e vivenciar essa linguagem que é nossa por direito. O direito à cultura. Música faz parte de nossa cultura. Em suma, temos muita gente talentosa, preparada e esforçada tentando muito, e uma estrutura que, por muitas vezes, não agrega valor ou contraparte ao esforço colocado.
 
04. Como você vê os programas de televisão que oferecem espaço para cantores (as)?
R. Não vejo. Não acredito neles. Se por um lado "oferecem uma oportunidade", para cada um, frustram outros cem. Não vou dourar a pílula sobre essa opinião, porque primeiro: música competitiva perde sua maior essência para quem desfruta e para quem faz. Imagine a imagem mental sobre a música que se forma na cabeça daquele que iniciou com competições... existe sempre algo a vencer, uma afronta sem fim. Música é paz, coexistência e colaboração, por isso existem pessoas que acreditam que "não tem dom", que "não tem coordenação" para tocar e deixam seus sonhos de lado. Porque as referências do tocar foram deturpadas por valores de "gênio e não gênio", e acredito que isso elimina potenciais artistas do mundo e traz sofrimento aos que persistem.

05. Como vai o Brasil em termos de composição musical no gênero Música Popular?
R. A meu ver vai muito bem, há excelentes músicos no Brasil, gerações de artistas formidáveis conversando musicalmente entre si. O que não deve ir muito bem são os holofotes nessas pessoas, para fazer emergir toda essa qualidade. A imprensa, os meios de comunicação não os têm privilegiado muito, o que não os impede de compor, performar e produzir.
 
06. Aconteceu nos últimos anos algum crescimento no interesse pela Música Erudita no Brasil?
R. Acredito que falar do Brasil todo seria utópico, mas do Sudeste, especificamente em São Paulo, observo que os programas de inclusão e formação de apreciadores promovidos pela Sala São Paulo, Centro Cultural Vergueiro e Teatro Municipal, fazem com que milhares e milhares de crianças tomem contato com o mundo da música de orquestra e ampliem o seu repertório de escuta. Existem outros programas de formação e inclusão de jovens nesse gênero por todo o país, e isso acaba interferindo no crescimento por esse interesse.  Infelizmente, com o fechamento de orquestras e programas de ensino de música gratuitos sendo encerrados ou subtraídos os seus recursos, fica mais difícil dar segmento ao que já foi plantado.

07. O que os governos dos países ainda não fizeram e que precisaria ser feito em relação à Música, de uma forma geral?
R. Não fechar orquestras. Remunerar melhor e estimular a formação continuada de todos os professores, de música ou não. Promover programas de educação musical curriculares e extracurriculares. Exigir formação específica como especialista para lecionar música no Ensino Fundamental e Médio. Esse veto à Lei federal 11769 (que definiu a música como conteúdo obrigatório, mas não específico no ensino regular, além de ser aprovada com veto sobre a obrigatória formação específica na área) não ajudou à real concretização do efetivo ensino de música na escola, e sim de uma releitura da Educação Artística com uma nomenclatura diferente. Não retirar as linguagens artísticas e esportes na nova grade curricular. Rever toda a Lei Rouanet, que não privilegia os artistas que ainda não são conhecidos. Destinar considerável verba à pesquisa e extensão às Universidades na área de Música (e também a outras áreas). Fomentar a cultura verdadeiramente, e não secar as fontes de recursos. Não ver as artes, especificamente a música, como sangria na contenção de gastos. Vamos sangrar a corrupção e desvio de verbas, começando pela revisão dos cargos públicos... Vai aparecer dinheiro para tocar bem, se aposentar bem, ir ao médico, tudinho.  Agora, por último e mais recente, do Estado não se meter no conceito de profissão ou não profissão do artista.
 
08. Com quantos anos uma criança deve ter acesso à Educação Musical?
R. Minha resposta pronta seria: a partir do momento que ouvir, rs. Agora vou me explicar. A educação musical, como estímulo cognitivo, ao meu ver, pode ser desde o quinto mês intrauterino, que é quando o bebê passa a ouvir. É uma audição em meio ao líquido amniótico, então ela sente também a vibração dos sons do corpo e da voz da mãe, e aprende a reconhecê-la.  No Espaço Musical Sintonia, já trabalhamos a educação musical com gestantes, o que proporcionava bem-estar e qualidade de vida para ambos, mãe e bebê. O início geralmente indicado é a partir do quinto mês de vida, momento em que o bebê já consegue se manter sentado e pode vivenciar as atividades com os pais. A música estimula muitas áreas neurais concomitantemente, muitas até que o indivíduo utilizará mais tarde e por toda a vida, além de não fazer mal nenhum, então, a meu ver, sempre, a partir da audição, que não comprometa elementos fundamentais, como fome, sono e higiene, e sempre com um profissional habilitado e competente para trabalhar com as crianças da forma mais humanizada possível. Esse deve ser o caminho da educação musical para crianças de qualquer idade.   
 
09. Quanto ao estudo específico de um instrumento musical, há uma idade mínima ideal?
R. Como eu sempre reflito com os alunos e estudantes de música e licenciatura: o instrumento está para a pessoa, e não a pessoa para o instrumento. Observar quem aprenderá ou aprende o tempo todo é a maior premissa, desde a situação física, intelectual, de alfabetização, o capital cultural desse potencial aluno e suas referências. Depende muito do estudante e do tipo de instrumento. A partir do momento em que o estudante se reconhece como indivíduo e consegue respeitar e compreender regras simples, já é possível cogitar aulas com um instrumento musical específico, mas ergonomia, bem-estar, desenvolvimento e transformar a experiência da música em algo exitoso devem ser os pontos mais importantes. Cada instrumento deve ter pontos mais pertinentes observados, como postura, tempo de concentração da criança (as menores têm um período mais curto entre uma atividade e outra), esforço físico destinado (segurar o peso de uma guitarra elétrica, ou uma tuba? Com que idade e constituição física deve-se ensinar um instrumento de sopro com embocadura?), enfim, são diversas e essenciais variáveis, e aponto novamente para o olhar do educador musical, que deve ter, sim, essa sensibilidade, e sobretudo perceber a vontade da criança, que é a grande energia mobilizada ao aprendizado.
 
10. O estudo de um instrumento musical, no que colabora para o emocional de uma pessoa?
R. Praticar música amplia muito nossa percepção de nós mesmos, do meio em que vivemos e dos demais, então na medida em que ampliamos essa consciência, tornamo-nos seres mais equilibrados com aquilo que sentimos. Há diversos relatos de pessoas que harmonizam e organizam seus sentimentos ouvindo, participando ou praticando música, então, por experiência própria, pelo que assisto ensinando, e pela pesquisa nossa e de outros colegas, colabora muitíssimo.
 
11. Existem instrumentos musicais que são mais procurados pelas mulheres para o estudo?
R. Não.
 
12. Quais são as áreas de trabalho atualmente para quem estuda Música?
R. Poderia contar mais de cem, e nossa entrevista se estenderia muito, mas destaco o ensino, a prática de música, tocar em orquestras ou grupos de música popular, grupos de serenatas, casamentos, programas de tv, compositores de trilhas para filmes, seriados, games, novelas, teatro, curtas, produção musical de cds, dvds, teatro, filmes, regência de coros e orquestras, musicoterapia, que é uma área relativamente nova e bastante procurada, pesquisa na área de música, musicologia, performance, transcritores, arquivistas e por aí vai...
 
13. O que você, como professora de música, gostaria de dizer para os internautas da web revista musical Fala Maestro?
R. Duas coisas:
Que a música, antes de tudo, é uma linguagem milenar, uma expressão humana, mas sentida por todos os seres, um direito nosso e que, antes de qualquer coisa, ela deve pertencer a todos. "Que a música pertença a todos". É uma frase que levei comigo desde quando ouvi pela primeira vez em um encontro do método Kodaly, escrita pelo próprio educador. Outra, do nosso querido Hermeto Pascoal: "os objetos estão ao nosso redor esperando para serem usados como instrumentos". Enfim, o que quero dizer com isso? Que não existe sensação de inabilidade ou ausência de recursos ou instrumentos que impeça qualquer pessoa de aprender e de se apreender da linguagem musical, fazendo uso dela para se expressar, desenvolver-se e inspirar outras pessoas. Que ninguém deve impor limites a si mesmo quando o assunto é música. Ouça, faça, participe! A música pertence a todos!
 

 
Profa. Daniele Garcia Migrassom - Mestre em Música pela UNESP, tem experiência na área de Música, com ênfase em violão e canto, composição musical, educação musical, canto coral, prática instrumental, oficinas de música e projetos culturais. É proprietária e coordena o Espaço Musical Sintonia - escola livre de música, e como artista e produtora, integra o Duo Migrassom.

Contato: daniele@migrassom.com
www.danielegarcia.com.br
www.migrassom.com.br
www.musicalsintonia.com.br
GARCIA, Daniele Munhoz. (Citações- Pesquisa Acadêmica)
Linha de Pesquisa: Educação Musical
Som e Vida Após a Lata: Criação de Instrumentos Musicais com Material Alternativo
Palavras-chave: Música e Desenvolvimento Humano; Instrumentos Musicais; Construção de instrumentos; Criatividade; Educação Musical.
 
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